A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) entregou na noite desta quinta-feira (23/6) o Prêmio Dandara a 27 personalidade que reconhecidamente contribuem para a valorização da mulher negra afrodescendente, latino americana e caribenha no estado. Conduzida pela deputada Tia Ju (REP), autora da homenagem, a cerimônia foi realizada em meio ao plenário lotado da sede do Parlamento fluminense, no Edifício Lúcio Costa.

“Esta lei é contra o apagamento histórico das mulheres negras no Estado do Rio de Janeiro e do Brasil. Temos conseguido avançar, mas ainda é pouco para falar em igualdade. Enquanto a mulher não tiver um papel preponderante, mazelas e atrasos não serão superados. E quando falo em oportunidade me vem um filme na cabeça porque eu não tive, mas eu busquei”, disse a deputada, emocionada.

Conhecida como ‘Rosa Negra’, a desembargadora aposentada Ivone Ferreira Caetano, que participou da mesa da cerimônia ao lado de Tia Ju, enalteceu a presença de mulheres negras na Casa. “Quando iniciei minha carreira no Judiciário, éramos somente eu e meu marido. Hoje, olhando rapidamente para este plenário, contei 35 mulheres negras. Ainda é pouco, mas estamos avançando”, disse a primeira desembargadora negra do estado, cuja biografia é contada no livro “Rosa Negra – Retalhos de uma trajetória de superação”.

A secretária estadual de Administração Penitenciária, Maria Rosa Lo Duca Nebel, primeira mulher policial penal a ocupar o cargo, parabenizou as mulheres pela premiação, em especial, a sua assessora, Sílnia dos Santos Ancelmo, que recebeu o Prêmio Dandara, após 28 anos de serviços prestados ao sistema penitenciário. “Parabenizo as mulheres que brigam por seus direitos, em seus espaços, em suas corporações, em seus lares. Sílnia vinha sofrendo perseguição de gênero. Lutamos e a justiça foi feita. De presente, ainda ganhei a amizade da Tia Ju”, disse a secretária.

Também participaram da mesa a Coronel Márcia de Andrade, subchefe de Gabinete do Comando Geral da Polícia Militar; Glória Maria Bastos, inspetora geral da Ronda Maria da Penha, da Guarda Municipal do Rio; Angela Borges, coordenadora do Advocacia Preta Carioca, um coletivo de 260 juristas negras; Maria Carmen Sá, da Defensoria Pública do Estado, e a desembargadora Renata França.

Dandara, mulher de Zumbi

Tia Ju contou como surgiu a ideia de propor a premiação. “Assim que cheguei à Alerj, em 2015, notei que não havia uma homenagem às mulheres negras do nosso estado. Fui buscar inspiração em uma figura emblemática da História e me deparei com o nome de Dandara, que foi a mulher de Zumbi dos Palmares, mas poucos conhecem sua história em defesa da liberdade”, comentou.

Ainda segundo a deputada, Dandara foi líder e se destacou na luta contra a escravidão, mas até hoje é invisível. Existe o busto, tem o Dia de Zumbi e para Dandara não tinha nada”, ressalta, lembrando que a personagem também é idolatrada no candomblé. A deputada, que é evangélica, lembrou que o Dia da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha é comemorado em 25 de julho, mas como a Alerj estará em recesso legislativo, decidiu antecipar a entrega do prêmio.

Dandara foi uma das grandes lideranças femininas negras que lutou, juntamente com Zumbi dos Palmares, contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registro do local de seu nascimento, tampouco de sua ascendência africana. Relatos apontam que ela nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina. Primeira e única mulher de Zumbi reconhecida; princesa de Palmares e mãe dos três filhos de Zumbi, Dandara era guerreira valente e auxiliou o marido nas estratégias e planos de ataque e defesa de Palmares.

Confira abaixo a lista das homenageadas:

Alessandra Moreira dos Santos - representante da OAB Mulher

Alvaneide de França Xavier - assistente social e líder comunitária

Ana Luz - vereadora do município de Queimados

Bianca Santos Nunes - artista plástica da Rocinha

Daniela Maria Alves Nogueira - missionária

Danúbia Silvia de Almeida - guarda municipal

Débora do Espírito Santo Silva - ativista social

Edyd Gomes - responsável pelo movimento jovem da Igreja Universal

Eliete dos Santos Silva - assistente social

Ellen Andrea Barbosa - ativista em defesa das mulheres da Rocinha

Eufrásia Maria Souza das Virgens - defensora pública da Infância e Juventude

Fernanda Machado - presidente da Unegro-RJ (União de Negros pela Igualdade)

Hellen Galdeano - cantora gospel

Jorgina dos Santos - presidente do Sindicato das Domésticas de Volta Redonda

Ledir Silva de Oliveira - policial militar

Leide de Caxias - vereadora do município de Duque de Caxias

Lenir Morais Ferreira (Lenir da África)´- ativista social

Leonice Moreira dos Santos - pastora

Lídia Leta dos Reis Braga (Vó Lídia) - educadora infantil

Lydiana Gomes Soares - enfermeira

Raquel Guedes Ribeiro - pastora

Rosa Perdigão - baiana do acarajé

Rosana Cardoso - empreendedora

Rosângela Gomes - deputada federal (representada pela assessora

Sílnia dos Santos Ancelmo - policial penal

Tânia Bastos - vereadora no município do Rio de Janeiro

Tatiana dos Santos Batista - professora da Emerj (representada por Dandara Vital)